Se Tu Mãe estivesses aqui...

Se tu mãe estivesses aqui, hoje farias anos!
Quando digo "aqui", quero dizer..... fisicamente, materializada, assim como nós, no nosso meio.
Curioso mãe, que te não vejo mas sinto. Acredito minha mãe que estás num mundo de paz, silencio e com ausência de dor. Mas como tenho saudades....
Hoje farias anos, seria um dia de aniversário, um dia em que eu iria até ti dar-te um beijo, oferecer uma flor, sei lá....mas ia ver-te.
Hoje seria um dia que iria ouvir de ti os teus conselhos, as tuas dicas para que eu me porta-se bem, segundo a fé de Nosso Senhor Jesus Cristo. Tenho saudades tuas mãe.
Sabes mãe, ainda hoje revejo em minha mente a tua pose na janela vendo-me chegar.
Ainda hoje lembro as tuas ofertas generosas de café com leite e pão com manteiga, tudo bem quentinho a preceito como sempre achas-te seria melhor. Tenho saudades minha mãe.
Ainda hoje lembro a forma sempre firme como me falavas da Bíblia, dos seus ensinamentos, das suas mensagens..., da maneira como seguravas os óculos para melhor leres aquelas letras pequeninas. Tenho saudades minha mãe.
Lembro mãe, aqueles dias em que preocupada não ias dormir sem primeiro saber de mim, sem primeiro dares-me a recomendação do costume....  "...não venhas tarde!!!"
Hoje, se estivesses aqui, farias a festinha de teu aniversário, mas não estás.... Deus quis ter-te perto d'ELE.
Faz algum tempo que vieste "falar" comigo, era noite, lembras-te?
Eu dormia, e fui acordado por um anjo feito menino, branco de luz posicionado nos pés da minha cama..... foi lindo.
Quis falar com ele, mas ele somente sorria, e me olhava intenso, com uma paz no rosto única.
Sua face irradiava luz, apesar de ser noite..... eu senti tanta paz, olhando-o.
E, ali postado, como que elevado do solo, como se a gravidade não existisse.....ele era um anjo, um ser de luz que anunciava a tua chegada.
E tu chegaste...!!!, no meio de um sonho meu.
Chamas-te por mim, vestias um robe que eu conheço bem, aquele robe de noite que sempre gostaste muito mãe.
No teu tom de mãe, num tom seguro e meigo, carregado de amor chamas-te por mim....

                                            "....António, vem cá. Preciso falar contigo!!!!...."

E ligeiro, rápido levantei e fui..., e curioso naquele momento não tinha como adquirido que já tinhas partido para o mundo espiritual, tal era a "realidade" materializada de teu espírito, feito carne naquele sonho.
Tenho uma dúvida só minha mãe..... foste tu que vieste até mim, ou foste tu que me levaste ate ti?
Mas seja o que for eu amei, vislumbrei a tua paz, o teu ser, a tua espiritualidade.
Falaste-me coisas que eu quis ouvir, coisas que eu tenho ainda no meu peito guardadas.
De súbito....partiste, mas não sem antes teres tocado em minha cabeça.
Senti o leve peso de tua mão, afagando o meu cabelo, tão real, tão real que quis que aquele momento se eternizasse.E, de um pulo saltei da cama, acendi a luz e vi que estremunhado tinha acabado de receber a tua visita....tão doce..., que bom minha mãe, eram 4 horas da manhã.....lembras-te mãe?
Agora, que teus destinos são da eternidade, nesses mundos do espiritual, do divino,  lembro a tua memoria, a tua grandeza como mulher aqui nesta Terra.
Quero para ti minha mãe, que a tua eternidade seja de paz, luz e sabedoria.
Quero para ti mãe, o privilégio de veres a "face" A Deus.
Quero para ti mãe, a tranquilidade do "convívio" com os eleitos de Deus.
Que sejas um "ser" de sabedoria, e também  sejas o destino de todos as benfeitorias da alma concedidos por Deus.
Roga por mim, minha mãe, não "condenes" os meus devaneios que sei por vezes vão a contra as lições de vida que sempre me deste.
Tu mãe, sabes bem de que sou "feito", de toda a natureza que me fizeste herdar de ti..., sabes bem o quanto luto por ser feliz, e por isso te peço toda a tua energia, companheirismo, e o teu amor de mãe que sei muito bem poderes dar-me mesmo que por algum tempo estejamos desencontrados nas vidas deste e desse mundo.
Um dia nos veremos, e juntos faremos o amor filial vibrar, mas te peço mãe, te rogo... me acompanha , fala, me assedia nos meus sonhos, e se assim o entenderes, dá-me o ralhe-te que tanta falta me faz, e ao qual me habituaste por toda uma vida.
Que Deus todo poderoso te acolha no Seu seio, e te conduza à vida eterna!

Caminhando, vou morrendo...

Pelos passos que caminhando vou dando, contados sem fim, com destino a lado algum que não sei bem  onde.... eu olho as pedrinhas do chão, as areias do caminho.
Por vezes passo por entre as veredas, pelos muros altaneiros, sofrendo os arranhões das saliências do caminho, como que querendo acordar-me do sono que me invade a alma.
Curioso que no caminho parece que encontro o meu ser, o meu carácter, tudo aquilo que sou.
Todo o silencio do caminho invade todo o meu ser, toda a minha natureza, mais perecendo que me misturo com o ambiente. Dou por mim a falar comigo mesmo, como querendo analisar todo o filme de uma vida.
Começo sempre enérgico, determinado em chegar, subo e desço, apesar de a vida não ter escadas, só rampas e subidas, por vezes sinto fadiga, noutras alegria, mas o importante é que o caminho não acabe, a perseverança se mantenha.
Há momentos em que assobio, em outros canto e ainda noutros choro, mas caminho...
Se caminhar eu pudesse, sem que alguma vez eu caia, seria tão bom, tão bom, mas... como cansa muito, sempre que mais uma vez e outra vez nos temos que erguer.  Por vezes fica tão escuro que mesmo em dias de sol a noite parece cair. Caminhando, vou morrendo...
Quando o caminho se torna penoso, quando a passarada fica agressiva, tudo fica horrendo, mais parece  carregar o karma em carne viva.
Esta caminhada, este olhar longe, o zonzo do caminho, faz de mim um caminheiro pesado,  por vezes sem a consciência do percurso, sem consciência das dores e maleitas da alma.
Caminhando, vou morrendo...
Por momentos, entendo o caminho pela direita, em outras vezes optaria pelo da esquerda, para em outros momentos ficar na encruzilhada da vida, após tanto caminho, a lucidez por vezes nos escapa, a "visão" da alma fica distante, o temor do que vem a seguir nos assusta.
Oh! tantas as vezes que olho o céu, tantas as vezes suplico, tantas as vezes sinto as benesses do alto, para em outros só a solidão me segredar no coração as dores do empedrado do caminho. E, eu teimo, mais vagarosamente, ou mais lesto me afoito nas veredas da vida, nos muros das indecisões, esquivo dos arranhões que me são infligidos nas arestas das curvas que a vida tem.
Caminhando, vou morrendo... desse facto eu não tenho duvida alguma!