O meu deserto, que queria eu, não fosse de areias escaldantes povoados por lacraus, ratos do deserto, ou tempestades de areias, não... o meu deserto é autentico, é real, existe, está dentro de mim.
O vento desse deserto, varre meu corpo, gela-me as mãos, cega-me os passos....por onde vou? porque vou? que faço eu aqui?
Não sei, não tenho resposta apesar de tanto a procurar...
Procuro a sinalética de vida, algo que me diga que caminho, que direcção, que poderei eu fazer?
Vou fazendo o caminho, deixo marcas na areia da minha vida, pegadas mas fundas aqui, outras mais suaves ali, umas mais a direito, outras nem tanto...
Curvado, como que tentando defender-me da agressividade das areias varridas pelos ventos da vida, que fustigam minha pele, eu curvo-me, eu escondo o rosto.... não quero pelo menos perder a visão, o olhar do caminho por onde vou, pois quero ver onde ponho os pés....as vezes não sei, não!!!.
Vivo na sede, a garganta seca de tanta agressividade, o pó entra nas narinas, os olhos ardem, por vezes sinto-me consumido pelos meus desertos de vida.... porque venho por aqui? porque não vou por ali? Não sei...., não tenho resposta.
Pelos meus desertos de vida, pelos meus desertos de afectos perdidos, as vezes encontrados, outras vezes de novo perdidos, eu caminho curvado, o ambiente é agressivo, a pele estala, os desertos são assim.... secos, hostis....nada neles sobrevive..... que faço eu aqui???
Por vezes, tenho miragens, parece-me ver um afecto aqui, outro ali..... puro engano, as miragens são cínicas, nos castigam, nos iludem...., fazem-nos parecer que agora sim, estamos salvos, mas logo constatamos que fracassamos.... o afecto não está lá, qual oásis de vida luxuriante no meio de tanta aridez.
Os meus desertos, são muitos, e eu tão pequeno para os vencer, encontrar o meu rumo exacto. Eu sou teimoso, obstinado, eu sou de luta... quebrado, vergado, quase invisual no caminhar...eu teimo, vou..., sei que o deserto ficará para traz no caminho das minhas hesitações.
Eu caminho, eu vou deixando pegadas na areia, elas vão sendo o único sinal de que passei por ali, que existo, que vou para onde não sei.... mas eu vou!!!.
Nestes meus desertos de vida, de afectos também, eu vou acompanhado da mão amiga de alguns seres humanos generosos, sensíveis, solidários que pacientemente me vão literalmente salvando desta caminhada dorida, dando-me a mão, "matam-me" a sede de afecto, me dizem o caminho, me tiram deste "areal" de vida afectiva quase deserta.
Continuo andando, olhando o horizonte curvo, ondulante das colinas de areia que ainda terei que vencer na minha vida....e com esperança, na companhia solidária das mãos amigas, que sempre me acolhem quando "ajoelho" na areia escaldante que as minhas lágrimas tentam em vão arrefecer....
Dói, vergado que seja, eu vou, seguirei o caminho árido, o deserto não é infinito, aliás nada é infinito, a não ser Deus, que eu sei me olha e acompanha, e talvez esteja a testar-me!!!!.
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